Capítulo 06
Garota Engraçada
Desta vez o céu estava sem nuvens, pelo menos para a cidade de Santalune. Um sol tímido fazia presença no meio da manhã, e os moradores aproveitavam para passar o dia fora de suas casas, aproveitando o ar da pequena cidade do interior. Em um pequeno chalezinho estavam Calem, Serena e Charlie.
A porta do banheiro se abriu, liberando de dentro dela uma grande quantidade de vapor, com um cheiro forte de sabonete. De lá saiu Calem vestido com um roupão, envolto de toda a fumaça branca do banheiro. Os cabelos lisos úmidos. Charlie e Serena estavam na cozinha, então logo o viram sair. A casa era pequenina, mas agradava aos garotos.
— Acabou? — indagou Charlie.
Calem arqueou uma sobrancelha, esfregando a parte de trás do cabelo.
— Daqui a dez minutos vou tomar outro. — respondeu.
— Mas você já tomou quatro banhos! — disse a garota. — Mal consegui dormir com o barulho do chuveiro.
— A ideia de entrar na floresta não foi minha. Nem de ficar. Nem de me perder. Nem de dormir no chão. — argumentou ele, recebendo um aceno de cabeça da prima, como se insinuasse “eu sei”.
Ele puxou uma cadeira da mesa em que ambos estavam sentados e se juntou à dupla. Fitou tudo ao seu redor, cada coisinha em seu mínimo lugar. Ainda que pequeno, o chalé era acolhedor, bem cuidado em cada mínimo detalhe, como vasinhos de flor nas janelas, ou os quadros de paisagem nas paredes.
— Aqui não é muito grande. — comentou o rapaz.
— Eu gosto. — disse Serena. — Me deixa tão confortável.
— Só de ter teto acima da minha cabeça eu já fico confortável. — argumentou Charlie, recebendo um risinho da garota.
Calem o encarou por um instante, voltou para o banheiro, e fechou a porta. Eles escutaram o som da porta se fechando, e depois do chuveiro sendo ligado. Suspiraram em conjunto, pois apenas o aguardavam para fazer alguma coisa. Santalune não tinha muitas atrações, mas queriam aproveitar aquele ambiente.
Charlie deu um tapinha na mesa e voltou o olhar para Serena.
— O que acha de andarmos um pouco? — sugeriu, se levantando.
Ela assentiu com um sorriso.
O Charlie é uma incógnita, para ser sincera. Nos conhecemos há uma semana, mas é como se eu o conhecesse a vida toda. Eu me sinto à vontade com ele. Mas ao mesmo tempo eu não sei nada sobre ele, e consigo ver aquilo que Calem diz. É ainda um desconhecido, não sei o que houve com ele antes de passar a morar nas ruas, nem o que fez por todo esse tempo. É possível uma pessoa que tem nada ser tão para cima, como ele, e uma que tudo tem ser tão para baixo, como o Cal?
Eles deixaram a casinha, e correram os olhos pela cidade.
A menina caminhava com passos singelos e animados ao mesmo tempo, notando cada detalhe ao seu redor. Mesmo com o piso e as casas, o ambiente estava bem preservado, a grama verdejante em tons claros e escuros, flores enfileiradas e alguns bancos de madeira para quem quisesse deleitar-se com a tranqüilidade local.
Segundo o mapinha de Serena, havia uma boutique que vendia chapéus, o que a interessou. Ela era dona de lindos cabelos louros, mas gostava de adorná-los. Charlie a acompanhou até a frente da suposta loja.
Não havia sofisticação, era do mesmo estilo que as demais casas, com rosas enfeitando a porta e sinos de vento pendurados. Ao empurrar a porta outro sininho tocou avisando sua entrada. Uma senhora ao ouvir o som olhou por cima da revista que folheava e retirou os pés de cima de uma mesinha. Ela apoiou a revista e sem tirar os olhos dela perguntou:
— Posso ajudá-los? — sem muito ânimo.
— Estamos só olhando. Obrigado. — disse Charlie, cuja aparência certamente não agradou muito a vendedora.
Serena o fitou.
— Como assim?
— É um padrão. — respondeu com simplicidade. — O vendedor te pergunta se pode te ajudar, e você fala que está só olhando.
— Mas por quê?
— Caso contrário ela vai querer te empurrar alguma coisa que você não queira comprar, entendeu?
— Acho que sim. Eu nunca ia imaginar. — ela riu.
Charlie não se interessou muito pelos chapéus, mas Serena admirou vários. O amigo tocou seu ombro, aconselhando que experimentasse algum.
— Tem certeza? Eu posso? — perguntou.
— Claro que pode, sua boba. — ele riu. — Vá até o provador e experimente.
Ela pegou alguns modelos de forma tímida, sem saber ao certo se devia mesmo. O fato de nunca ter entrado numa loja falava mais alto, até porque Charlie não era a pessoa mais recomendada para fazer compras. Poderia ser até maldade se pensar, mas ele tinha experiência em… Roubar.
Ela olhou no espelho enquanto depositava um a um em sua cabeleira loira, de tamanhos e cores diferentes. Se divertiu naqueles minutos, mas logo puxou a cortina do provador e saiu, colocando os chapéus de volta nas prateleiras.
— Não gostou de nenhum? — quis saber o amigo.
— Não é isso... — falou com certa hesitação. — mas tudo o que eu compro coloco na conta da minha família. Não quero que pensem que eu estou gastando com besteiras.
Ele assentiu.
— Pode deixar que eu dou um jeito nisso. — estalou os dedos.
Ela deixou uma gotinha de suor cair.
— O que você vai fazer? — perguntou, segurando em seu ombro direito.
— Qual você gostou mais? O roxo ou o azul? — indagou, comparando os dois.
— Você não está pensando em… Levar sem pagar, não é?
— Tranquilo. — disse. — Já estou levando esse relógio pra mim também. — falou, tirando o objeto do bolso.
Ela esfregou a mão na testa e tentou não rir.
— Charlie, para isso dar certo você não pode mais roubar coisas. — explicou, segurando-o frente a frente pelos ombros como uma mãe educando um filho, ignorando o fato da diferença de altura. — Você está com a gente agora, e compramos comida, abrigo… Mas você precisa colaborar.
O Calem sempre comenta que sou inocente demais. Nos livros que sempre li e programas que assisti é possível convencer as pessoas a ficarem boas, é possível influenciá-las. Mas eu nunca sei onde estou me metendo, ou com quem. Acredito que posso fazer o Charlie largar essa mania de roubar coisas, mas será que estou fazendo besteira em me envolver?
Acabaram se decidindo por sair da loja, e foram interceptados por Calem, já vestido, que os procurava. O garoto não parecia tão contente.
— Achei que iam me esperar. — disse. — Mas, de qualquer forma, estou indo rumo ao ginásio da cidade. Me acompanhem.
Calem aparentemente estava treinando para ser um treinador, e Charlie e Serena evitavam fazer comentários sobre, porque não imaginavam como alguém com aversão a Pokémons conseguiria entrar em um combate. Além de ser inexperiente, claro.
Algumas ruas depois, se depararam com uma construção de dois andares não muito extensa, ornamentada por árvores ao seu redor e flores decorando sua entrada, as janelas e o telhado. Era um ginásio extremamente natural, o que poderia lhes dar a impressão de que pertencia ao tipo grama. E claro, o símbolo que todos os ginásios oficiais carregavam em sua frente.
Não havia ninguém para recepcioná-los, então Calem foi à frente e empurrou a porta de entrada. Estava vazio por completo, foi a primeira coisa que percebeu. Depois focou melhor no ambiente, percebendo várias fotografias espalhadas, na maioria de insetos, outras de paisagens de diversos cantos de Kalos. Isso os confundiu um pouco.
— Então alguém ousa pisar no meu ginásio… — disse uma voz alta em um tom ameaçador.
O trio se virou, percebendo uma menina da mesma altura deles, de cabelos pretos e longos e um olhar expressivo os encarando. Suas mãos estavam depositadas na cintura, e a boca ocupada fazendo um bico, na tentativa de intimidá-los. Porém, sua imagem não era intimidadora.
— Eu gostaria de encontrar a Gym Leader deste estabelecimento. — pediu Calem. — Por favor.
A menina arqueou uma sobrancelha e revelou um sorriso de canto.
— Está olhando para ela. — atacou.
Calem fez uma expressão de como quem chupou limão naquele momento.
— Mas como… Você? — indagou.
— Exatamente! — garantiu. — Eu sou Viola, a Gym Leader de Santalune! Quem de vocês ousa desafiar meus poderosos insetos? Será você? Você? Ou você? — questionou, passando o apontador por cada um . — Pensando bem, podem vir os três!
— Vejamos... Qual o protocolo para solicitar uma batalha? — perguntou Calem agora sim um pouco mais intimidado.
— Oxi, e eu lá sei quem é esse “Tocolo” aí e vou falar o que é pra ele? — rebateu de forma inocente. — Mas se quer uma batalha aqui e agora é só falar, porque de mim ninguém tira essa insígnia!
— Bem… Assim, aqui, agora? Pensei em agendar para daqui a alguns meses, ou coisa do tipo. — admitiu Calem incomodado.
— Vamos logo, lance seu Pokémon aí que eu detono ele seja qual for! Anda logo! Não tenho o dia inteiro, menino! — ela sacou uma Pokébola.
Foi quando mais um grito pôde ser ouvido desta vez.
— Katheryn…!
A garota deixou os braços amolecerem e revirou os olhos.
— Aldrick, que droga! Você estragou minha batalha. — disse.
Um rapaz saiu de uma das portas andando a passos largos, com uma expressão não muito contente. A garota o fuzilou com o olhar, e ele soltou um longo suspiro. Àquela altura, nem Calem, Serena ou Charlie entendiam o que estava acontecendo. Será que os ginásios eram assim tão dramáticos?
— Você se passou pela Viola de novo? — perguntou ele se voltando para o trio. — Queiram nos perdoar. A senhorita Viola está em uma viagem para exposições fotográficas e só retornará em uma semana. — explicou. — Mas caso queiram visitar a galeria de fotos do ginásio, fiquem à vontade.
A garota cruzou os braços.
— Você adora estragar minha alegria, Aldrick-kun. — resmungou. — Eu nem estou com as insígnias comigo. A Viola-sama achou que eu fosse acabar derrubando elas na privada sem querer.
Os três disfarçaram uma risada. Aldrick prosseguiu:
— A Kath é aprendiz da Viola, então de vez em quando ela fica encarregada de avisar os desafiantes a esperarem ela voltar de viagem… — comentou. — Mas adora brincar um pouco como dona do ginásio.
— Aprendiz? — questionou Charlie. — Sem querer ofender, e tal, mas você passa a vida estudando insetos?
— Para sua informação, eu tenho uma prima que possui insetos poderosíssimos. — ela chacoalhou o dedo indicador enquanto falava. — Nunca os subestimem!
— Não vejo como insetos podem ser uma ameaça. — concordou Calem. — Sinto muito.
Ela se aproximou dele com raios no olhar.
— Ah é?! — desafiou. — Então vamos decidir isso na raça. — disse, arregaçando as mangas.
— Kath, vamos manter a calma. — disse Aldrick tocando seu ombro. — Eles são apenas viajantes, e não queremos arrumar problemas com…
— Senta lá, panaca.
— Suponho que você não esteja disposta a me enfrentar depois de passar a noite perdido em uma floresta asquerosa. — comentou, coçando o queixo.
— Eu cresci na roça, querido, derrubo um Tauros nervoso antes que você diga “aquesrosa” de novo. — bradou.
— Só se for com essa cara feia. — disse com um olhar irônico.
Ela se preparou para saltar encima dele, se não fosse segurada por Aldrick.
— ME SEGURA QUE EU ARRANCO OS DENTES DESSE CAPETA!! — arranhou o ar. — Ninguém insulta uma das primas de Azalea e sai impune! Eu sou Kate Berry, ninguém fala assim de mim!!
...
Depois de desistirem do ocorrido anterior, o quinteto se reuniu próximo à fonte característica da cidade. Uma Roselia feita de pedra esguichava correntes de água de dentro de suas rosas. Com exceção de Calem, todos estavam sentados em pares nos bancos, mas o rapaz usava um pano com álcool gel para desinfetar o local em que pretendia se sentar.
— Então vocês são a nova geração da família Windsor? — perguntou Aldrick se atirando para o encosto do banco. — Puxa, é como conversar com celebridades!
— Por favor, não pense assim em hipótese alguma! — interceptou Serena com um aceno gentil. — Não quero que nos julguem por nossos sobrenomes.
As pessoas sempre reagem assim ao escutar meu sobrenome. Eu não gosto, é como se apenas o “Windsor” importasse, e a “Serena” fosse um nada. É pedir muito que não perguntem meu último nome? Não quero que as pessoas me respeitem porque sou filha de uma família rica, e sim pela pessoa que eu sou. E não quero que me odeiem pelo que meus familiares podem ter feito, e sim pelo que eu sou também.
Desta vez foi Kath quem resolveu fazer uma pergunta, mas olhava para Charlie. Calem se sentou naquele momento.
— Tu morou na rua mesmo? Tipo, na rua? — perguntou recebendo uma cotovelada do amigo ao lado.
— Já morei nesse banco que estamos sentados agora. — admitiu. — Na verdade, Calem, acho que era aí que eu apoiava meus pés. — comentou, fazendo o menino saltar do banco. — Brincadeira.
— E vocês? — indagou Serena.
— Eu sempre morei aqui, mesmo. Conheci a Katheryn quando ela se mudou para cá. Foi difícil não notar a presença dela com os gritos que eu ouvia vindo do ginásio. — ele riu.
— E vocês não pensam em sair daqui? — perguntou Charlie.
— Pra quê, uai? — rebateu Katheryn. — Azalea não é muito diferente daqui. Eu gosto desse ar das cidades do interior. E tenho a mestra Viola aqui comigo!
— E eu vivo aqui mesmo. Há dezessete anos. — admitiu Aldrick. — Acredito que você seja um treinador, Calem. Para procurar uma batalha de ginásio…
Ele se remexeu.
— Bem, acho que você pode me categorizar assim — fez uma pausa. — mas nunca participei de uma batalha oficial. Na verdade, participei de umas duas batalhas até hoje.
Kath saltou.
— E você se considera um treinador? Nossa... — recebeu mais uma cotovelada de Aldrick. — Como pretende ganhar da diva da Viola-sama?
Ele deu de ombros.
— Também gostaria de saber.
Katheryn se levantou, empolgada.
— Sem deixar os ânimos caírem, Calo, porque eu posso ser sua inspiração. — falou.
— É Calem… — ele corrigiu-a.
— Santalune tem uma escola que oferece cursos relâmpago para treinadores viajantes. — lembrou Aldrick. — Por que não faz uma visita a ela amanhã?
— Pode ser…
— Pra que esperar? Vamos começar com uma batalha agora mesmo! — sugeriu Katheryn.
Calem fitou Serena, que fez um sinal com a cabeça o encorajando. Ele também se levantou e puxou a Pokébola de Larvitar, enquanto a viu estender outra. Ela não conseguia ficar parada, saltitava de um lado para o outro de forma animada. E atirou sua Pokébola para o alto, com um comando:
— Vai, Spinarak.
— Larvitar, acho que você tem que ir também. — falou Calem lançando sua esfera.
À frente de Katheryn estava um aracnídeo do tamanho da palma de uma mão, mas que causou certa repulsa no garoto devido a suas pernas peludas e a expressão não muito contente em suas costas. Larvitar assumiu a posição de batalha, mas não estava muito a fim de ser comandado por Calem, que tentava não mostrar seu nervosismo.
— Certo, a primeira coisa que você precisa saber sobre as batalhas é que você tem que acabar com seu adversário. — disse Kath.
— Pensei que era só nocauteá-lo. — comentou.
— Esfregar a cara dele na terra até que ele implore por piedade, o que importa é ganhar. — continuou ela. — Ok?
— Ok.
Aldrick esfregou a palma da mão no rosto.
— Você pode começar. Claro, não vai ganhar do meu Spinarak fofinho, mas posso deixar você ganhar dessa vez. Pensando bem, por que eu não começo e acabo com seu sofrimento? Nossa, já viu como minha voz fica linda quando eu grito? Eco, eco!
— Certo, deixe-me começar. — interrompeu ele. — Larvitar, use o Sandstorm.
O Pokémon coçou a própria cabeça e soltou um bocejo, deixando Calem com uma expressão envergonhada por não conseguir controlar sequer seu próprio Pokémon. Kath pareceu não perceber, pois ela mesma lançou um comando para seu Spinarak.
— Pode vir quente que eu to fervendo, meu bem! Spinarak, Leech Life! — comandou.
O Spinarak lançou um pequeno espinho segurado por um fio de teia. O espinho mal conseguiu atravessar a pele de pedra de Larvitar, não sendo muito efetivo. Já o pequeno dinossauro fechou os olhos se concentrou por um instante, e algumas pedrinhas começaram a se levantar do chão. Ao abri-los, encarou Spinarak e atirou-as.
Por pouco o aracnídeo não fora esmagado. Todos ficaram olhando por um instante sem entender aquele movimento, porque mesmo que em uma força mínima, Larvitar ainda era iniciante demais para usá-lo.
— Ancient Power… — ponderou Aldrick. — Larvitar não aprende este golpe naturalmente, ele só pode consegui-lo através da reprodução.
Calem o encarou sem entender.
— Talvez seja isso que a loja quisesse dizer no anúncio. Achei que esse bônus fosse algum acessório, e não um ataque. — comentou Calem. — De qualquer forma, parece que eu venci.
— O QUÊ? Ah, é claro que eu estou te testando. Óóóóbvio… Peguei meu Pokémon mais fraco só pra ver como você se sai, e tudo mais. — mentiu Kath. — E até que você não é mal.
Larvitar ficou parado encarando seu treinador, como se insinuasse que ele fizera tudo sozinho naquela vez. O rapaz se sentia inútil por não conseguir comandar uma batalha, pois assim não teria chances nenhumas dentro de ginásios. Ele retornou Larvitar para sua Pokébola.
— Mas não está pronto para a batalha ainda. — completou Katheryn. — Precisa melhorar muito, a Viola-sama é uma mestra dos insetos.
— E você precisa de mais um Pokémon. — acrescentou Aldrick. — As batalhas do Ginásio de Santalune são de dois contra dois.
— É uma obrigação que eu consiga mais um? — perguntou ele.
— É mais seguro, porque um novato igual você pode perder fácil fácil. — respondeu Katheryn.
— O mesmo novato que ganhou de você?
— Eu peguei esse Spinarak ontem!!
— Eu estava perdido em uma floresta, ontem!
...
A discussão teria continuado se os amigos não interrompessem. Foram convidados para o pequeno chalé alugado pelos primos, para que compartilhassem histórias. Aldrick apesar de não ter saído de Santalune, estudou bastante e sabia técnicas de batalha, e Katheryn era aprendiz de Viola, assim podiam ensinar melhor Calem. Estavam todos jogados no sofá, e já anoitecia aos poucos.
Eu também queria batalhar, mas me mantive em silêncio. Charlie conversava comigo, e tentava concordar vez ou outra, mas meu foco estava nos conselhos de Aldrick e Katheryn. Aldrick é um moço muito gentil, acho que equilibra bastante a Kath. Ela é uma menina muito engraçada sem nem precisar fazer piadas. O jeito hiperativo dela me anima.
— Você está bem? — perguntou Charlie. — Perguntei se eu poderia trocar seu cérebro por um amendoim e você disse “uhum”.
— Desculpe, estou prestando atenção em outra coisa. — respondeu a menina.
— Você quer batalhar? — ele perguntou.
— Eu não quero ser necessariamente uma treinadora. — ela começou, como se esse discurso tivesse sido ensaiado várias vezes. — Mas eu quero batalhar sim. Eu gostei tanto de lutar contra você, embora tenha me deixado ganhar.
Ele riu.
— Por que não batalha também, se quer tanto? — questionou. — Você deveria tentar…
Ela sorriu suavemente.
— É, você está certo.
— Mas primeiro vai precisar de sua Pokébola.
Ela apalpou o bolso e deu uma risadinha, estendendo a mão.
— Me devolve. — brincou.
— Aqui está, princesa.
Eu odeio quando me chamam de princesa também. Princesas são tão… Contos de fadas. E eu odeio contos de fadas. Mas não quero ser rude com ninguém, sei que o Charlie não faz por mal.
Querido diário,