Capítulo 5



Capítulo 05
O Olho do Arcanine
O Sol estava quase se pondo àquele horário da tarde, e o calor aos poucos se esvaía em Kalos, que já não possuía uma temperatura quente. A floresta de Santalune ficava a cada instante mais escura e até mesmo um pouco assustadora com os ruídos que podiam ser ouvidos de dentro dela.

Calem, Serena e Charlie eram as únicas almas humanas vivas naquele ambiente não muito convidativo. A floresta de Santalune, na realidade, era mais uma reserva da área original, com espécies protegidas e selecionadas pelos humanos, para não apresentar ameaças para os treinadores jovens que a visitavam buscando transitar entre as cidades.





Serena e Charlie estavam na frente, enquanto que Calem estava cada vez mais afastado, arrastando o próprio corpo como um zumbi. A garota virou-se para o companheiro ao lado, após checar as árvores e demais componentes:

— Charlie… Não quero assustar você, mas estamos o dia todo andando nessa floresta e não temos nem sinal se estamos chegando… — balbuciou de forma preocupada.

— Relaxa, princesa, eu vou dar um jeito! — exclamou o rapaz de forma animada, embora sequer tivesse certeza se estava tudo bem. — Sei que agora estamos perto.

— Você disse isso da última vez. E da penúltima. E da antepenúltima. E da…

— Entendi, entendi. — ele sorriu. — Mas sério, eu podia jurar que era por aqui... Hoje não tem muitos treinadores para nos dizer o caminho certo.

— Na verdade tinha… Mas quando começou a entardecer eles saíram. Não parece mesmo uma boa ideia entrar nessa floresta de noite. — disse a menina aos poucos segurando no braço de Charlie para guiá-la.

O garoto tentou ficar indiferente, e olhou para trás.

— Por falar nisso… Calem, tu está aí? Não ouço sua voz desde que entramos na floresta…

— Musgo… Árvores… Flores… Barulhos… — murmurava ele em tom baixo, como um verdadeiro zumbi.

— É, ele não está bem. Temos que sair o mais rápido possível se o quisermos por inteiro. — concluiu ela, logo olhando para as grandes árvores. — Por outro lado, eu nunca estive em uma floresta antes.

— É tão legal, o contato com a natureza, este cheirinho…

— O cheiro… — continuou Calem.

— Isso que você não dormiu em uma! Tem uma visão para as estrelas como em nenhum outro lugar! — disse o rapaz, animado.

Neste momento Calem se manifestou, correndo e parando na frente dos dois, os impedindo de continuar andando:

— O QUÊ? DORMIR? VOCÊS PERDERAM A CABEÇA? Eu estou me segurando para não desinfetar meus sapatos a cada passo dado... Imagine dormir… No chão!! — completou.

— Eu realmente sinto muito, cara, mas hoje parece que você vai ter que enfrentar suas manias, porque não vamos ter outra escolha. — respondeu Charlie sem muito ânimo, fitando o céu. — Está anoitecendo, é melhor começarmos a achar um lugar seguro e menos úmido para dormir, e pegar alguma coisa para comer. Estamos andando há horas.

— Ele tem mais experiência que nós, é melhor seguirmos seus conselhos. — disse Serena a seu primo.

— Acredite, linda, de dormir no chão eu entendo. — confirmou.

O trio caminhou pouco mais, tentando não se importarem com o fato de estarem sozinhos dentro de uma floresta… De noite. As árvores eram altas e pareciam almas de pessoas só esperando alguém passar para agarrar. Ruídos e sons de Pokémons eram comuns, mas ecoavam de forma que parecessem bem mais sinistros.

Charlie não parecia se importar muito com o ambiente, mas Serena reparava em cada detalhe, e se segurava para não sentir o doce aroma de cada flor, ou sentir a textura de cada planta. Enquanto isso, seu primo estava quase pirando naquele lugar, como um Pokémon colocado fora de seu habitat natural e jogado na cidade. Só que ao contrário. Charlie prosseguiu:

— Vou pegar algumas Berries para forrarmos o estômago, enquanto isso procurem algum lugar mais coberto. — pediu. — Eu já encontro vocês.

— É melhor não nos separarmos... — aconselhou Serena com uma voz um pouco recuada.

— Relaxa, eu consigo encontrar qualquer um em qualquer lugar daqui. Sou como um sensor, que sempre prevê o periiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiigo. — disse Charlie, tropeçando em uma pedra ao proferir a última palavra.

O rapaz se levantou e soltou uma risada de canto, seguindo seu rumo. Calem parecia não muito contente.

— É, estamos ferrados.

...

— E que tal aqui? — perguntou Serena apontando um cantinho

— Não. — respondeu Calem.

— Por Arceus, Calem, não há mais lugares sobrando! — repreendeu a prima parando por um instante e se sentando em uma pedra.

— Nem lugares limpos, pelo visto. — balbuciou ele, puxando um lenço umedecido e limpando uma pedra ao lado para se sentar.

— É uma floresta, o que você queria?!  — brincou ela.

Ele não respondeu, apenas revirou o olhar, cruzou os braços e as pernas. Foi quando ouviram o som de arbustos se mexendo, o que o fez segurar firme no ombro da garota, que sequer moveu um músculo. Do meio das árvores saiu Charlie.

— Cheguei para animar a noite de vocês! — disse. — E trouxe comida!

— Ah, que ótimo! Estou caindo de fome! — comemorou Serena.

Agora já era oficialmente noite, e o frio pouco a pouco tomava conta do ambiente. O céu enegrecido tinha a lua encoberta por nuvens espessas que indicavam uma tempestade a qualquer momento. Se por um lado a floresta já era assustadora durante a tarde, de noite ela ficava ainda mais sombria.

Charlie trouxe algumas Berries, frutos de tipos variados, que conseguira em algumas das árvores que se dispunham no bosque. Serena e Calem as fitaram por um tempo, enquanto que o companheiro já as provava sem hesitar.

— Nunca comi berries assim, direto do pé. — ponderou Serena, observando uma Oran Berry, azul e arredondada.

— Não? São as melhores assim! — exclamou Charlie. — Quer dizer, nunca provei essas compradas, mas aposto que natural é melhor.

Ela mordiscou levemente o fruto, mas aparentemente o sabor adocicado a conquistou, fazendo-a morder uma grande porção na vez seguinte, esboçando um sorriso de aprovação. Entretanto, Calem continuava observando seu “jantar”, enquanto limpava uma das frutas com um pano.

— Não vai comer, primo? — indagou.

Ele a encarou.

— Frutas. Sem lavar, desinfetar, descascar. Tiradas do pé, onde vermes se esfregaram, pássaros jogaram seus dejetos, chuva ácida cai, e outras coisas nem um pouco saudáveis. — cuspiu as palavras. — E você espera que eu coma?

— O que não mata, engorda.

— Nossa, que consolador.

A barriga do rapaz roncou levemente, deixando a entender que não havia outra escolha. Ficou a encarar o fruto, até dar uma pequena mordida nela. Ele não morreu de amores pelo sabor, principalmente ao olhar bem a fundo no alimento e observar um pequeno buraquinho, onde um verme mínimo rastejava.

Ele cuspiu e atirou a Berry o mais longe que pôde.

— ECA!!!!

Serena e Charlie riram ligeiramente, fazendo com que Calem soltasse um grito de agonia e batesse os pés no chão com força. Aquela fora a gota d’água.

— Chega! — protestou. — Preciso de ar.

— Só não vá muito longe, tome cuidado. — aconselhou Charlie.

— Está bem, senhor “mais experiente que nós”. — ironizou.

Ele saiu bufando e tentando desinfetar a boca, se perguntando por que aceitou sair naquela jornada. A natureza, para Serena, era maravilhosa, mas ele só conseguia pensar nos germes e perigos presentes naquele local hostil. A garota acompanhou com o olhar o primo se distanciar, mas logo sua visão se perdeu nas sombras entre as árvores.

— Ele vai ficar bem? — perguntou ela.

— O que de ruim pode acontecer? — respondeu Charlie com outra pergunta, sem esboçar preocupação.

...

Calem teria que admitir que foi uma ideia de jerico sair sozinho na floresta que o arrepiava. Mas não iria, em nome da sua dignidade, voltar. A intenção de tomar ar se perdeu ao se ver rodeado por enormes árvores que iam até onde seus olhos alcançavam, e pareciam se mover quando ele não olhava fixamente para elas, acompanhadas de sons misteriosos de possíveis Pokémons. Pelo menos, na sua cabeça, era assim.

Então ouviu o barulho de arbustos pequenos se mexendo, escondendo alguma criatura das trevas pronta para devorá-lo. Calem sequer se deu conta de que pelo tamanho da planta era impossível que alguém maior de trinta centímetros aparecesse, mas seu medo falou mais alto. Foi quando um pequeno Bunnelby saiu pulando para fora das folhas, o assustando.



— O-o-o-o-i-i-i b-b-i-i-c-c-hin-ho-o-o. T-t-tudo b-bem? — gaguejou, se afastando pouco a pouco.

O bichinho se manteve parado, apenas se mexendo um pouco no lugar ao mover suas orelhas e o focinho, de forma animada. Tinha uma expressão fofinha no rosto, e fez um pequeno som apenas em resposta, se aproximando um pouco da perna de Calem, o fazendo surtar:

— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Ele correu do pequeno Bunnelby, que ficou parado apenas observando o garoto correr como nunca. Ele nem sabia para onde corria, mas foi com tanta velocidade que com certeza estava longe do Pokémon. Por um tempo ele respirou aliviado, até se dar conta de que estava perdido no meio da Floresta de Santalune, sem seus amigos, sem comida, e sem seus artigos de limpeza.

— Serena?! Charles?! — gritou, ouvindo o eco, mas nenhum grito em resposta.

Os sons continuavam, sombras pareciam brincar com sua imaginação, dançando contra a iluminação da lua, que cada vez mais era encoberta pelas nuvens carregadas. Estava sozinho, repleto de Pokémons à sua volta, sem encanamento, comida pronta, ou seguranças. Realmente ele estava certo ao aconselhar Stevan a contratar um segurança para Serena ao invés dele.

Muito bem. A partir daquele momento eu me dei conta de uma coisa: Eu estava completamente lascado!

— Pense, Calem, pense. Lembre-se, você é inteligente e racional. Você vai achar uma forma de sobreviver. — disse em voz baixa para si mesmo, sem se dar conta dos exageros.

Por via das dúvidas, eu tinha em mente que precisava escrever um diário de sobrevivência para caso meu corpo fosse encontrado, e pudessem saber de como minha morte foi horrível. Claro, eu ia culpar o Charles e a Serena por tal desgraça. Mas fico em dúvida de quem meu biógrafo conversaria se eles fossem presos. Vou deixar a justiça falha resolver.

— E agora, vida, o que mais falta acontecer? — questionou ele aos céus.

Quase que em sincronia, sentiu uma gota cair em seu nariz. Ele entortou os olhos para a observar, e logo outras começaram a cair do céu, dando início a uma chuva forte com direito a trovoadas e clarões que apenas tornavam aquela cena ainda mais assustadora.

— Perfeito. — disse, ironicamente.

Certamente não ganharia muita coisa ficando lá, parado. Continuou correndo, lutando contra pensamentos ruins ou lágrimas, em busca de algum lugar onde pudesse se refugiar. Encontrou uma fenda entre rochedos, como uma caverna improvisada, e adentrou-a, buscando abrigo. Lá estaria à salvo, pelo menos por enquanto.

Ele fungou, acabado. Estava completamente com medo: solitário, sem saber o que esperar. Beijaria os pés de Charlie para que o rapaz estivesse lá o auxiliando e mostrando como lidar com aquela situação, ou apenas para que Serena estivesse lá para que ele se sentisse mais forte.

Por sorte trazia algo no bolso, que era sua última esperança. Ele aumentou o tamanho da esfera bicolor e lançou Larvitar. A criatura de pedra correu o olhar pelo ambiente e se deparou com seu treinador encolhido, trêmulo, com os olhos arregalados.

— Eu sei que você não gosta de mim. — disse o garoto. — E saiba que eu também não morro de amores por você. Mas eu preciso de ajuda. Por favor.

O Larvitar manteve a pose centrada. Ele certamente não estava gostando do treinador rastejando por ajuda, mas não poderia deixá-lo assim, mesmo que não tivessem nenhum laço de amizade. Ao menos até aquele momento.

 ...

Charlie e Serena haviam entrado debaixo de algumas árvores, onde não chovia. A garota acompanhava com o olhar cada detalhe da paisagem, com uma expressão desanimada em sua face.

— Charlie... Acho que ele se perdeu... Ele não volta faz uma hora.

— Tem razão. — concordou ele.

— Vamos atrás dele? — sugeriu.

— Por quê? — sorriu ele. — Está chovendo. E essa floresta é inofensiva, Serena. Podemos ter nos perdido, mas ela é uma caixa de sapatos. E mais, só alguns Pokémons pequenos vivem aqui. Temos que ajudar seu primo a superar essa aversão pela natureza.

— É... Mas só de imaginá-lo eu fico com um aperto no peito. — ela tocou a região citada.

— Devem ser gases. — brincou ele.
 ...

— Quem precisa de convivência com o meio ambiente? A física é minha maior aliada. Precisamos de fogo, então algo para queimar e fricção. — disse Charlie segurando duas pedras.

Sem jeito algum, ele começou a batê-las e esfregá-las, não conseguindo gerar nem uma labareda. Larvitar continuou a encará-lo, quase que se perguntando que tipo de treinador lhe enviaram. Ou melhor, para que tipo de treinador foi enviado.

— Droga, por que a prática é tão mais complicada que a teoria? — resmungou ele.

Capítulo 1: Os filmes me enganaram. Não dá pra fazer fogo raspando pedras. Favor, após processar Charles Stuart e Serena Windsor, processem as empresas midiáticas que mostram fogo sendo feito com pedras. Grato.

O Pokémon se aproximou e golpeou outra pedra, criando uma fagulha. O corpo de pedra ao se friccionar com outra criou uma pequena chama, e ele usou algumas folhas como combustível. Logo havia uma pequena fogueira onde podiam se aquecer e iluminar o ambiente, para a surpresa do rapaz. Ao encarar Larvitar, o Pokémon apenas fez um gesto, como se insinuasse: “Viu só?”.

— Até que você é esperto. — admitiu ele. — Sabe, para um Pokémon.

O silêncio tomou conta do lugar, se não fosse pelo som das gotas de chuva caindo sobre o piso de terra e sobre as copas das árvores, vez ou outra alguns trovões rugindo ao fundo. Um cheiro de terra úmida agradável começou a surgir, e raios rasgavam o céu de vez em quando, dando uma iluminação instantânea.

O treinador quebrou o silêncio.

— Acredito que eu lhe deva desculpas por… Nos últimos tempos não termos nos aproximado tanto quanto eu gostaria. Ou melhor, tanto quanto um treinador normal gostaria.

O Pokémon não se agradou muito. Continuou observando a madeira queimando, e o fogo aumentar e diminuir com a brisa que corria. Calem também não mudou a direção do olhar, encarando a fogueirinha sem muito ânimo. Mais uma vez acabou com o silêncio.

— Acho que você é até esperto. Deve ser como eu, no seu mundo. — acrescentou, com naturalidade. — Acho que poderíamos treinar mais amanhã… E quem sabe vencemos o líder da próxima cidade?

Desta vez trocaram olhares sinceros. Larvitar andou alguns passos a mais, e Calem engatinhou um pouco. Agora estavam a menos de um metro um do outro. Pararam, se observando mais um pouco. Antes que o Pokémon desse mais um passo, o menino o repreendeu, se afastando.

— Sem tanta aproximação, por favor. Este é o mais próximo que já cheguei perto de você. Uma parte por vez. — pediu.

Larvitar não demonstrou nenhuma expressão, mas também se afastou um pouco.

Calem se levantou e andou em direção da saída da pequena caverna. Ainda tinha medo, mas conseguia olhar melhor para a floresta, para as árvores, água, frutos... Tudo tão perfeito, tudo tão bem feito… E sem sequer uma mão humana influenciando.

— A natureza é tão sábia. Vocês tem tudo o que precisam… Água, comida, abrigo, família… É como se nós, humanos, apenas destruíssemos isso. — ele comentou.

Capítulo 2: Contato com a selva faz você ficar natureba. O ar natural e cheiro de terra molhada te droga e faz você achar que a natureza é perfeita. Cuidado, é apenas uma armadilha das árvores para que você morra na mata e usem seu cadáver como adubo.
 ... 

A manhã estava linda. Nossa, que manhã linda. Um sol incrível, mas uma droga de lugar. Uma selva. Nossa, que horror. Provavelmente eu ainda estava perdido naquela Floresta de Santalune. Eu já não sabia o que fazer. Precisava me higienizar, mas não tinha nenhuma farmácia por perto. Este era meu dilema no momento.

Tentei lavar meu rosto em um lago, mas tinha um Croconaw lá dentro que quase me abocanhou. Um Croconaw! Eu nem sabia que dava pra achar um desses aí nessa reservinha, mas eu também achava que árvores queriam me devorar, então acho que não dá pra falar muita coisa.

Vários Pokémons vivam naquela floresta. Grandes e pequenos. Mas eu não iria deixar eles me vencerem. Não, não iria. Fiz desde me tornar amigo de um Donphan até estar coberto por Joltiks. Foi um verdadeiro trauma, mas isso me tornou bem forte.

As roupas se desgastaram, e comecei a vestir peles como roupa. Uma mistura de listras e pintas. Passei a caçar, porque claro, não dava pra viver de frutas. Era como se a cada instante eu ficasse mais viciado por aquela natureza linda e maravilhosa. Explorava, explorava… Mas eu não era o todo poderoso de lá.

Alguém estava acima de mim.

Foi quando encontrei-o. Arcanine, o verdadeiro rei de todo aquele lugar, a quem todos os Pokémons se curvavam para vê-lo passar. Era hora de desafiá-lo. E me tornar o novo rei da Floresta de Santalune.

O encurralei. O encarei. Aqueles olhos vibrantes, os olhos de um verdadeiro Arcanine. Ele era meu rival, e eu estava ao seu nível. Ouvia seu rugido, mas eu era mais forte. Ele iria se curvar a mim. Afinal, nem mesmo um Arcanine conseguiria me peitar quando eu descobri que na selva não tinha anticéptico bucal.

Quem diria? Um garoto que nunca viu uma árvore na natureza agora era o rei da floresta. O novo Arcanine. Eu era o melhor lá, superara todos os meus medos. Mas um pedaço do passado veio me visitar, quando vi minha prima se aproximando. Ela estava exatamente igual, com exceção dos olhos cheios de súplica encarando minha pele suja e mais bronzeada. E minhas vestes de pele, que pelo visto ela não gostara tanto.

— Calem, por favor, volte ao normal! Calem! Calem! — ela gritava, mas parecia que seu grito estava longe, e não simplesmente na minha frente. Como um eco.

 ...

— Calem? Acorda, primo. — Calem ouviu Serena o cutucando.

— AH! — gritou.

Ele estava na mesma caverna da noite passada, mas com Larvitar, Serena e Charlie o observando. O menino riu ao vê-lo deitado no chão com uma expressão totalmente confusa. Ele ainda estava bem vestido, e nada havia acontecido. Já era de manhã, cedo, e a tempestade fora embora, dando oportunidade de que os amigos o procurassem.

— Acho que a parte mais assustadora do pesadelo foi achar que pintas e listras combinavam… — murmurou, se levantando.

— O quê?

— Nada, nada. Graças a Arceus vocês me acharam, achei que ia precisar morar nessa floresta para sempre, e ficaria perdido, teria que domar grandes feras e…

Ele se interrompeu ao ver Charlie sair da pequena caverna e apontar em uma determinada direção.

— Olhe ali.

“SAÍDA. NÃO JOGUE LIXO NO CHÃO.”

Ele quase engasgou.

— E-Eu dormi do lado da saída da floresta? — questionou, incrédulo.

Charlie tocou em seu ombro, mas ele não reagiu, apenas continuou encarando a placa.

— Parece que você não teve muita sorte, amigo. — admitiu o rapaz.

— Tire as patas imundas de mim. — reclamou ele, tirando o braço de Charlie.

Ele saiu pisando duro, arrastando os pés e balançando as mãos, evitando olhar para sua roupa suja de terra, os cabelos bagunçados, e o fedor. Os amigos o acompanharam com o olhar, fazendo-o se virar e demonstrar uma expressão de completa raiva.

— O que estão esperando?! Vamos logo, vou precisar de, no mínimo, quatro banhos para esquecer essa noite. Andem, chega desse lugar por hoje!

E saiu andando, acompanhado dos amigos, que não esconderam uma risada.


Capítulo 3 — Minha sobrevivência.
Graças aos céus eu estava são e salvo daquele lugar horrível. Descobri através de um mapa que a floresta era pequena. E que não tinha Arcanines, Donphans, Joltiks, nem nada do gênero. É claro, adorei isso, adorei ter saído bem e ter tomado meus cinco banhos depois. Mas até que ter me tornado rei da floresta não seria uma coisa tão ruim…

Bah, nova tese: Berries fazem você ter alucinações.